Revisando a História da Mulher Samaritana João 4
Jesus e a mulher Samaritana: Relendo uma amada história
O capítulo que relata a história de Jesus encontrando a mulher
Samaritana junto ao poço de Jacó, em João 4, começa definindo o cenário para o
que acontecerá mais tarde em Samaria e está firmado no que aconteceu na Judeia
no tempo em que já se desenvolvia o Evangelho. A popularidade crescente
de Jesus resultou em um significativo número de seguidores.
Geografia
O texto simplesmente diz que Jesus “teve de passar por
Samaria” (vs.4). Talvez, neste momento uma curta aula de geografia seja útil.
As terras Samaritanas ficavam entre as terras da Judéia e da Galiléia. O
caminho contornando Samaria levava o dobro do tempo, ao invés do três dias
necessário indo direto da Galiléia a Jerusalém, porque evitando Samaria era
preciso atravessar o rio Jordão duas vezes para seguir um caminho a leste do
rio (Vita 269). O caminho através de Samaria era mais perigoso, porque eram
comuns os ânimos se exaltarem entre Samaritanos e Judeus (Ant. 20,118; Guerra
2.232). Não nos é dita a razão pela qual Jesus e seus discípulos precisavam
passar por Samaria. João simplesmente diz que Jesus “tinha que ir”, implicando
que para Jesus isto não era comum. Talvez Jesus precisasse chegar à Galiléia
relativamente rápido. Mas o texto não nos dá nenhuma indicação de que ele tinha
um convite pendente para um evento na Galiléia para o qual ele estava atrasado.
Ele saiu quando sentiu a iminência de um confronto com os fariseus sobre a sua
popularidade entre os Israelitas. Isto estava associado à compreensão de Jesus
que o tempo para tal confronto ainda não tinha chegado. Na mente de Jesus, o
confronto com a liderança religiosa da Judéia, (e não se enganem sobre isso, os
principais fariseus eram parte integrante de tal liderança) neste momento era
prematuro e que muito precisava ser feito antes de ir para a cruz e beber do
cálice da ira de Deus, em nome da antiga aliança com o povo e as nações do
mundo. A maneira como Jesus via os Samaritanos e seu próprio ministério entre
eles pode nos surpreender à medida que continuamos a examinar esta história.
Sabemos que os movimentos e as atividades de Jesus foram
todas feitas de acordo com a vontade e a liderança do Pai. Ele só fez o que viu
o Pai fazer (Jo 5: 19). Sendo este o caso, podemos estar certos de que a
jornada de Jesus através de Samaria, neste momento foi dirigida por seu Pai e
assim, também, foi a sua conversa com a mulher Samaritana.
Os Samaritanos
As
fontes nos apresentam, pelo menos, duas histórias diferentes dos Samaritanos.
Uma – de acordo com Samaritanos Israelitas, e a outra – de acordo com Judeus
Israelitas. Enquanto existem dificuldades sobre a confiabilidade dos documentos
antigos contaminados pela polêmica Judaica- Samaritana, bem como a datação
tardia das fontes de ambos os lados, algumas coisas podem, contudo, ser
estabelecidas. A estória Samaritana de sua história e identidade correspondem
aproximadamente ao seguinte:
1) Os Samaritanos chamavam-se a si mesmos de Bnei Israel
(Filhos de Israel).
2) Os Samaritanos eram um grupo considerável de pessoas que
acreditavam preservar a religião original do antigo Israel. O nome
Samaritano traduzido literalmente do hebraico significa Os Guardiões (de leis e
tradições originais). Embora seja difícil falar em números concretos, a
população Samaritana no tempo de Jesus era comparável àquela dos Judeus e
incluiu a grande diáspora.
3) Os Samaritanos acreditavam que o centro de adoração de
Israel não deveria ter sido o Monte Sião, mas sim o Monte Gerizim. Eles
argumentaram que este era o local do primeiro sacrifício Israelita na Terra (Deut.
27: 4) e que continuou a ser o centro da atividade sacrificial dos patriarcas
de Israel. Este era o lugar onde as bênçãos foram pronunciadas pelos antigos
Israelitas. Os Samaritanos acreditavam que Betel (Jacob), o Monte Moriá
(Abraão) e o Monte Gerizim eram o mesmo lugar.
4) Os Samaritanos tinham essencialmente um credo
quádruplo: 1) Um Deus, 2) Um Profeta, 3) Um Livro e 4) Um Lugar.
5) Os Samaritanos acreditavam que as pessoas que se chamavam
Judeus (crentes no Deus de Israel situados na Judéia) haviam tomado o caminho
errado em sua prática religiosa pela importação de novidades para a Terra
durante o retorno do exílio Babilônico.
6) Os Samaritanos autênticos rejeitaram a supremacia da
dinastia Davídica em Israel. Eles acreditavam que os sacerdotes levitas em seu
templo eram os legítimos líderes de Israel.
Agora que fizemos um resumo parcial levando em conta o outro
lado da história e as crenças dos Samaritanos, vamos nos voltar para a versão
Judaica da mesma história. Este registro essencialmente origina-se de dois
Talmuds e sua interpretação da Bíblia Hebraica, de Josefo e do Novo Testamento.
1) Os Samaritanos eram um grupo de pessoas com misturas
teológicas e étnicas. Eles acreditavam em um Deus único. Além disso, eles
associavam seu Deus, com o Deus que deu a Torá ao povo de Israel. Os
Samaritanos são geneticamente relacionados aos remanescentes das tribos do
norte que foram deixados na terra após o exílio Assírio. Eles se casaram
com gentios, que foram transferidos para Samaria pelo imperador Assírio.
Este ato de desapropriação e transferência de sua terra natal foi feito em uma
tentativa estratégica de destruir a identidade do povo e prevenir
qualquer potencial de futura revolta.
2) Nos escritos rabínicos Judaicos, os Samaritanos são
geralmente referidos pelo termo “Kuthim.” O termo está provavelmente
relacionado a um local no Iraque do qual foram importados exilados não Israelitas
para Samaria (2 Reis 17:24). O nome Kuthim ou Kuthites (de Kutha) foi usado em
contraste com o termo Samaritano” (os
guardiões da lei). Os escritos Judaicos enfatizaram a identidade estrangeira da
religião e prática Samaritanas, em contraste com a verdadeira fé de Israel, que
eles chamariam especialmente em um período posterior, como Judaísmo Rabínico
[1]. A interpretação rabínica dos Samaritanos não foi totalmente negativa.
3) De acordo com 2 Crônicas 30:1-31:6, a alegação de que as
tribos do norte de Israel foram todas exiladas pelos Assírios e, portanto,
aqueles que ocuparam a terra (Samaritanos) eram de origem não Israelita é
rejeitada em uma leitura mais atenta da Bíblia Hebraica. Esta passagem diz que
nem todas as pessoas do reino do norte foram exiladas pelos Assírios. Alguns,
talvez confirmando a versão Samaritana, permaneceram mesmo após a conquista
Assíria da terra no século 8 AC.
4) Os Israelitas situados na Judéia (os Judeus) acreditam
que não só os Samaritanos optaram por rejeitar as palavras dos profetas a
respeito supremacia de Sião e dinastia Davídica, mas também
deliberadamente mudaram a própria Torá para ajustar sua teologia e práticas
heréticas. Esta é uma das visões que podem ser tiradas da comparação dos dois
Pentateucos, a Torá dos Samaritanos e a Torá dos Judeus. O texto Samaritano
permite leitura muito melhor do que o mesmo Judeu. Em alguns casos, as
histórias da Torá Judaica parecem truncadas, com pouca lógica e fluxo
narrativo não claro. Em contraste, os textos da Torá Samaritana parecem ter um
fluxo narrativo muito mais suave. Superficialmente, isto torna a Torá Judaica
problemática. Após uma análise mais aprofundada, no entanto, isso poderia levar
ao argumento de que o Pentateuco Samaritano seria uma revisão ou edição tardia de
texto Judaico anterior. Com base neste e em outros argumentos, estamos de
acordo com a visão Judaica argumentando que a Torá Samaritana é uma
revisão magistral e teologicamente dirigida dos primeiros textos
Judaicos correspondentes.
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recomendado pelo Dr. Eli que você leia tudo, desde o início, de seu estudo de
João. Você pode fazê-lo clicando aqui– “Comentário Judaico-Samaritano”.
O Encontro
Ao
descrever o encontro, João faz várias observações interessantes que têm grandes
implicações para o nosso entendimento dos versículos 5-6:
“Então ele veio a uma cidade da Samaria, chamada Sicar,
perto do terreno que Jacó tinha dado a seu filho José. O poço de Jacó
estava lá, e Jesus, cansado como estava da viagem, sentou-se ao lado do poço.
Era cerca da hora sexta”.
“Agora, eles enterraram os ossos de José, que os filhos de
Israel trouxeram do Egito, em Siquém, no pedaço de terra que Jacó havia
comprado dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro, e se
tornaram a herança dos filhos de José “(Js. 24: 32).
A razão para esta referência a José, no versículo 5 só se
tornará clara quando vemos que a mulher Samaritana sofreu em sua vida de forma
semelhante a José. Se esta interpretação da história é correta, que assim
como na vida de José, o sofrimento inexplicável que passou teve a finalidade de
levar a salvação a Israel, do mesmo modo o sofrimento na vida da mulher
Samaritana levou à salvação dos Samaritanos Israelitas naquela
localidade (4 : 22).
João continua: “Ali ficava o poço de Jacó, e Jesus, cansado
como estava da viagem, sentou-se ao lado do poço. Era quase a hora sexta “(v.
6). Tradicionalmente se assume que a mulher Samaritana era uma mulher de
má fama. A referência à hora sexta (cerca de 12:00 hs) tem sido
interpretada como se ela estivesse evitando a multidão de outras mulheres da
cidade tirando água. A hora sexta bíblica era supostamente o pior momento
possível do dia para se deixar a moradia e se aventurar no calor escaldante.
“Se alguém for tirar água, neste horário, poderíamos concluir apropriadamente
que estava tentando evitar as pessoas”, diz o argumento.
Vamos, no entanto, sugerir outra possibilidade. A teoria
popular a vê como uma mulher particularmente pecadora que havia caído em pecado
sexual e, portanto, foi chamada por Jesus a prestar contas sobre os
vários maridos em sua vida. Jesus disse a ela, como a teoria popular diz,
que Ele sabia que ela anteriormente teve cinco maridos e que atualmente ela
estava vivendo com seu “namorado”, sem os limites do casamento e que ela
não estava apta para jogar jogos espirituais com Ele! Deste ponto de vista, a
razão pela qual ela evitou a multidão é precisamente por causa de sua reputação
de compromissos familiares de curta duração.
Primeiro, 12:00 hs ainda não é o pior horário para
andar no sol. Se fosse 15:00 hs (hora nona) a teoria tradicional faria um pouco
mais de sentido. Além disso, não fica claro se isso ocorreu durante o verão, o
que poderia tornar o tempo em Samaria irrelevante nos dois horários. Em segundo
lugar, é possível que estejamos dando muita importância a sua ida para tirar
água em “um momento incomum”? Nós todos, por vezes, não fazemos coisas normais
em horários incomuns? Isso não significa necessariamente que estejamos
escondendo alguma coisa de alguém. Em terceiro lugar, vemos que as filhas do
sacerdote de Midiã foram dar água aos seus animais por volta da mesma hora do
dia, quando as pessoas supostamente não vão aos poços (Êxodo 2:15-19).
Quando lemos essa história, nós não podemos ajudar mas,
podemos perguntar como é possível, em uma sociedade conservadora como a
Samaritana, que uma mulher com tal histórico ruim, apoiasse os valores da
comunidade e tivesse motivado toda a aldeia a largar tudo e ir com ela ver
Jesus, um profeta Judeu “herege para os Samaritanos”. A lógica
padrão seria como segue. Ela tinha levado uma vida tão sem Deus que,
quando outros ouviram de sua excitação e do encontro de um novo interesse
espiritual eles se admiraram e foram ver Jesus por si mesmos. Esta
interpretação, ainda que possível, parece improvável para os autores deste
livro e parece compreender enfoques teológicos muito mais tarde nessa história
antiga, que tinha o seu próprio ambiente histórico. Estamos convencidos de que
ler a história de uma maneira nova é mais lógico e cria menos problemas de
interpretação do que a visão comumente aceita.
Vejamos mais de perto esta passagem
“Quando uma mulher Samaritana veio tirar água, Jesus lhe
disse: ‘Você vai me dar de beber? (Seus discípulos tinham ido à cidade comprar
comida). A mulher Samaritana lhe disse: ‘Você é um Judeu e eu sou uma mulher
Samaritana. Como você pode me pedir água? ” (Pois os Judeus não se dão com os
Samaritanos.) “(Vs.7-9).
Apesar do fato de que para a visão moderna as diferenças
eram insignificantes e sem importância, Jesus e a mulher Samaritana sem nome
eram de dois povos diferentes e historicamente antagônicos, cada um considerando
que o outro se desviou drasticamente da antiga fé de Israel. Em suma,
suas famílias eram inimigas sociais, religiosas e políticas. Isto não era
porque eles eram tão diferentes, mas precisamente porque eles eram muito
parecidos.
De acordo com a perspectiva tradicional, a mulher Samaritana
provavelmente reconheceu que Jesus era Judeu pela sua roupa Judaica
tradicional. Jesus certamente estava usando franjas rituais em obediência à Lei
de Moisés (Nm.15: 38 e Dt 22:12). Desde que os homens
Samaritanos também observavam a Lei de Moisés, é provável que os
ex-maridos da mulher Samaritana e outros homens de sua aldeia também usassem a
roupa ritual com franjas. A observância da lei Mosaica pelos Samaritanos
‘(lembrar que os termos Samaritanos significa os “guardiões” da lei e não as
pessoas que viviam em Samaria)’ estava de acordo com a sua própria
interpretação e diferia da visão Judaica em algumas questões, mas é importante
lembrar que eles eram considerados pela comunidade Judaica Israelita mais como
irmãos rivais do que como estranhos não relacionados. Continuando a
leitura:
“Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é o que lhe pede
água, você lhe teria pedido e ele te daria água viva.” ‘Senhor’, disse a
mulher, “você não tem nada com que tirar água e o poço é fundo. Onde você
pode obter essa água da vida? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu
o poço e bebeu ele mesmo, como também os seus filhos e os seus rebanhos e
manadas? Jesus respondeu: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede,
mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Na verdade, a água
que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida
eterna. ” A mulher disse-lhe: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu nunca mais
fique com sede e tenha que continuar vindo aqui para tirar água. ” Ele
lhe disse: Vai, chama o teu marido e volte. ‘ “Eu não tenho marido”, ela
respondeu. Jesus disse-lhe: “Você tem razão quando diz que não tem marido. O
fato é que tiveste cinco maridos, e o homem que você tem agora não é seu
marido. O que você acabou de dizer é verdade ” [3]. ‘Senhor ‘, disse a mulher,
“Eu posso ver que você é um profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós
dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém. ”
Esta passagem tem sido frequentemente interpretada da
seguinte forma: Jesus inicia uma conversação espiritual (vs.10). A mulher
começa a ridicularizar declaração de Jesus apontando a incapacidade de Jesus
fornecer o que ele parece oferecer (vs.11-12). Depois de um breve confronto em
que Jesus chama a atenção para a falta de solução definitiva para o problema
espiritual da mulher (vs. 13-14), a mulher continua com uma atitude sarcástica
(vs.15). Finalmente, Jesus teve o suficiente e ele então expõe com força
o pecado na vida da mulher – um padrão de relacionamentos familiares
interrompidos (vs.16-18). Agora, indo direto ao coração pela visão onisciente
de Jesus, a mulher reconhece seu pecado em um momento de verdade (vs.19)
chamando Jesus de profeta. Mas então, como todo incrédulo normalmente faz, ela
tenta evitar os problemas reais do seu pecado e sua necessidade espiritual. Ela
começa a falar sobre questões doutrinárias (versículo 20), a fim de evitar
lidar com os problemas reais da sua vida. Embora esta maneira de ler este texto
possa não ser a única, ela é acompanhada de uma visão geralmente negativa da
mulher Samaritana.
Por esta interpretação popular pressupor que a mulher era
particularmente imoral, toda a conversa é vista à luz de um ponto de
vista negativo. Gostaríamos de recomendar uma trajetória totalmente diferente
para a compreensão desta história. Embora não seja um caso um hermético, essa
trajetória alternativa parece ajustar-se melhor ao resto da história e,
especialmente, a sua conclusão.
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Relendo a História
Como
foi sugerido anteriormente, é possível que a mulher Samaritana não estivesse
necessariamente tentando evitar qualquer pessoa. Mas, mesmo que ela
estivesse, há outras explicações para sua fuga que não o sentimento de culpa
por sua imoralidade sexual. Por exemplo, como se sabe as pessoas quando estão
deprimidas não querem ver ninguém. A depressão estava presente no tempo de
Jesus, assim como ela está presente na vida das pessoas hoje. Em vez de assumir
que a mulher Samaritana trocou de maridos como quem troca de roupa, é
razoável pensar nela como uma mulher que tinha experimentado a morte de vários
maridos, ou como uma mulher cujos maridos podem ter sido infiéis a ela, ou mesmo
como uma mulher cujos maridos se divorciaram dela por sua incapacidade de ter
filhos. Qualquer uma destas sugestões e muitas outras é possível neste
caso.
É importante notar que, ter cinco maridos sucessivos era
inédito na sociedade antiga, especialmente em uma conservadora como a dos
Israelitas Guardiões da Lei (Samaritanos). Este fato fez com que alguns
comentaristas antigos e modernos sugerissem erroneamente que este encontro não
era histórico, mas metafórico. O argumento usado foi de que ‘desde que os Samaritanos
representavam gentios e, portanto, a situação absurda de ter cinco maridos
deveria ter dado uma pista para o leitor que esta não é uma história real e nem
uma mulher real’. Naquela sociedade, a menos que a mulher fosse rica, adotar
para si um estilo de vida sem compromisso era uma impossibilidade econômica.
Uma vez que não era seu servo, mas ela mesma que foi tirar água,
concluímos que ela provavelmente não era rica e, portanto, simplesmente não
podia pagar o tipo de estilo de vida com que a temos dotado ao longo de
séculos de interpretação cristã. Sem sequer considerar outras possibilidades
como opções viáveis, aqueles que nos ensinaram, e aqueles que lhes ensinaram,
têm consistentemente retratado essa mulher sob uma luz totalmente negativa. Acreditamos
que isto seja desnecessário.
Se estivermos corretos em nossa sugestão de que essa mulher
não era particularmente uma “mulher caída”, então talvez possamos ligar o seu
testemunho incrivelmente bem sucedido na aldeia com a inesperada, mas extremamente
importante referência de João aos ossos de José. Vale ressaltar que para os
gentios e até mesmo hipotéticos leitores “Judeus” deste Evangelho, o lugar onde
os ossos de José foram enterrados não seria tão importante, embora ainda
significativo, do que teria sido para os Samaritanos Israelitas, uma vez que os
ossos do Patriarca também ligam a presença de Deus com a vizinhança do Monte
Gerizim e a cidade santa de Siquém. Quando ouvimos que a conversa ocorreu
ao lado de ossos de José, imediatamente lembramo-nos da história de José
e principalmente de seu sofrimento imerecido. Como você se lembra,
apenas parte dos sofrimentos de José foram auto impostos. Ainda no final,
quando ninguém esperava por isso, os sofrimentos de José acabaram por tornarem-se
os eventos que salvaram o mundo da fome.
Agora, considere a conexão com José em mais detalhes. Siquém
foi uma das cidades de refúgio, onde se proporcionava um paraíso seguro a um
homem que tivesse matado alguém sem intenção (Js. 21:20-21). Como os habitantes
de Siquém estavam vivendo suas vidas sob a sombra da prescrição da Torá eles
eram, sem dúvida, bem cientes do estado incomum de graça e função protetora de
Deus, que foi atribuído à sua cidade especial. Eles deveriam proteger as
pessoas infelizes, cujas vidas foram ameaçadas de vingança pelos membros da
família, mas na verdade eram inocentes de qualquer crime intencional que
justificasse o castigo ameaçado [4].
José nasceu em uma família muito especial, onde a graça e a
salvação deveriam descrever sua característica. Jacó, o descendente de Abraão e
Isaac, teve outros 11 filhos, cujas ações, ao invés de ajudar seu pai a
levantar José, variavam de explosões de ciúme ao desejo de se livrar para
sempre de seu mimado, mas “especial” irmão. Mas havia mais. Foi em Siquém que
Josué reuniu as tribos de Israel, desafiando-os a abandonar seus antigos deuses
em favor de YHWH e depois de fazer a aliança com eles, enterrou os ossos de
José lá. Lemos em Josué 24:1-32:
“Então Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém. Ele
convocou os anciãos, os líderes, os juízes e os oficiais de Israel, e eles se
apresentaram diante de Deus Mas se
servir ao Senhor parece indesejável para vocês, então escolham hoje
a quem vocês vão servir, se aos deuses que seus antepassados serviram além do
Rio ou aos deuses dos Amorreus, em cuja terra habitais. Porém, eu e a
minha família serviremos ao Senhor. “… Naquele dia, Josué fez uma aliança para
o povo, e em Siquém ele elaborou decretos e leis para o povo
(vs.26) E Josué registrou essas coisas no Livro da Lei de Deus. Então ele
pegou uma grande pedra e a erigiu ali debaixo do carvalho perto do lugar santo
do Senhor… 31 Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos
anciãos que sobreviveram e que tinham experimentado tudo o que o Senhor tinha
feito por Israel. E os ossos de José, que os israelitas haviam trazido do
Egito, foram enterrados em Siquém, no pedaço de terra que Jacó comprara dos
filhos de Hamor , pai de Siquém, por cem peças de prata. “Esta terra tornou-se
a herança dos descendentes de José”.
É interessante que o lugar deste encontro com a mulher
Samaritana foi escolhido pelo Senhor da providência de uma forma tão bonita:
uma mulher emocionalmente alienada que se sente desprotegida, enquanto ela vive
na ou perto da cidade de refúgio, está tendo um fundamento na fé, uma conversa
de compromisso com o Renovador da Aliança de Deus – o Real Filho de
Deus, Jesus. Ela faz isso no mesmo lugar onde os antigos israelitas
renovaram sua aliança, em resposta às palavras de Deus, selando-as com duas
testemunhas: 1) a pedra (Js.24 :26-27), confessando com a boca as suas
obrigações para com a aliança e a fé no Deus de Israel, e 2) os ossos de José
(Js.24 :31-32), cuja história os guiou em suas viagens.
Em certo sentido, a mulher Samaritana faz a mesma coisa que
os Israelitas antigos ao confessar a seus concidadãos a sua fé em Jesus como o
Cristo e o compromisso com o Salvador do mundo. Lemos em João 4:28-39.
“Venham, ver o homem que me disse tudo o que eu já fiz”.
Poderia ser este o Cristo? “Eles saíram da cidade e foram para o lugar onde
Jesus estava… Muitos dos Samaritanos daquela cidade creram nele, por causa do
testemunho da mulher…”
A ligação entre José e a mulher Samaritana não termina aí.
Lembrar que José recebeu adiantada uma bênção especial de seu pai, no momento
da morte de Jacó. Era uma promessa de que ele seria uma videira frutífera
subindo pela parede (Gênesis 49:22). O Salmo 80:8 fala de uma vinha sendo
trazida do Egito, cujos ramos espalhados por toda a terra, acabaram por levar a
salvação ao mundo através da videira verdadeira. Em João 15:1, lemos que Jesus
se identifica como esta videira verdadeira e assim como o antigo Israel, Jesus
também foi simbolicamente tirado do Egito (Mt. 2: 15 ). Em sua conversa
com a mulher Samaritana, Jesus – a videira prometida na benção de Jacó a José –
está de fato escalando o muro da hostilidade entre os Judeus Israelitas e
Samaritanos Israelitas para unir estas duas partes do seu reino através
de Sua pessoa, ensino e ações. De uma forma profundamente simbólica esta
conversa ocorre perto de um poço que foi construído por Jacó, a quem foi dada a
promessa!
Agora que nós analisamos alguns simbolismos
relevantes do Antigo Testamento, vamos reler essa história através de um olhar
diferente. Ela pode ter sido algo como
Jesus inicia uma conversa com a mulher: “Você vai me dar de
beber?” Seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. A mulher se sente
segura com Jesus, pois, como ele não é de sua aldeia, ele não sabe sobre sua
vida ou mesmo quão deprimida ela pode ter se sentido durante meses. Em
sua opinião, ele era parte relacionada de uma comunidade religiosa herética.
Jesus não teria tido nenhum contato com os líderes Samaritanos Israelitas
de sua comunidade. Ela estava segura. Esta abertura da mulher para Jesus é
muito semelhante aos trabalhadores cristãos que procuram fora aconselhamento
para seus problemas familiares. As pessoas que conhecem e amam são agradáveis,
mas também podem ser perigosas. Quem sabe?! Elas podem transmitir informações
que em alguns casos podem terminar a carreira ministerial do trabalhador.
Assim, em casos difíceis, os trabalhadores do ministério cristão costumam optar
por pagar especialistas em aconselhamento que são independentes e não ligados à
suas igrejas e ministérios. O especialista é seguro. É o seu trabalho. Isto é
tudo. Nesse sentido Jesus era seguro. Ele não era um Samaritano, mas, Judeu.
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