Relendo a História

É importante notar que, ter cinco maridos sucessivos era
inédito na sociedade antiga, especialmente em uma conservadora como a dos
Israelitas Guardiões da Lei (Samaritanos). Este fato fez com que alguns
comentaristas antigos e modernos sugerissem erroneamente que este encontro não
era histórico, mas metafórico. O argumento usado foi de que ‘desde que os
Samaritanos representavam gentios e, portanto, a situação absurda de ter cinco
maridos deveria ter dado uma pista para o leitor que esta não é uma história
real e nem uma mulher real’. Naquela sociedade, a menos que a mulher fosse
rica, adotar para si um estilo de vida sem compromisso era uma impossibilidade
econômica. Uma vez que não era seu
servo, mas ela mesma que foi tirar água,
concluímos que ela provavelmente não era rica e, portanto, simplesmente não
podia pagar o tipo de estilo de vida com
que a temos dotado ao longo de séculos de interpretação cristã. Sem
sequer considerar outras possibilidades como opções viáveis, aqueles que nos
ensinaram, e aqueles que lhes ensinaram, têm consistentemente retratado essa
mulher sob uma luz totalmente negativa. Acreditamos que isto seja
desnecessário.
Se estivermos corretos em nossa sugestão de que essa mulher
não era particularmente uma “mulher caída”, então talvez possamos ligar o seu
testemunho incrivelmente bem sucedido na aldeia com a inesperada, mas
extremamente importante referência de João aos ossos de José. Vale ressaltar que
para os gentios e até mesmo hipotéticos leitores “Judeus” deste Evangelho, o
lugar onde os ossos de José foram enterrados não seria tão importante, embora
ainda significativo, do que teria sido para os Samaritanos Israelitas, uma vez
que os ossos do Patriarca também ligam a presença de Deus com a vizinhança do
Monte Gerizim e a cidade santa de Siquém. Quando ouvimos que a conversa
ocorreu ao lado de ossos de José,
imediatamente lembramos da história de
José e principalmente de seu sofrimento
imerecido. Como você se lembra, apenas
parte dos sofrimentos de José foram auto impostos. Ainda no final, quando
ninguém esperava por isso, os sofrimentos de José acabaram por tornar-se os
eventos que salvaram o mundo da fome.
Agora, considere a conexão com José em mais detalhes. Siquém
foi uma das cidades de refúgio, onde se proporcionava um paraíso seguro a um
homem que tivesse matado alguém sem intenção (Js. 21:20-21). Como os habitantes
de Siquém estavam vivendo suas vidas sob a sombra da prescrição da Torá eles
eram, sem dúvida, bem cientes do estado incomum de graça e função protetora de
Deus, que foi atribuído à sua cidade especial. Eles deveriam proteger as
pessoas infelizes, cujas vidas foram ameaçadas de vingança pelos membros da
família, mas na verdade eram inocentes de qualquer crime intencional que
justificasse o castigo ameaçado [4].